Geórgia (USA) atinge picos de calor extremo, a
população de Enigma, uma pequena povoação com os seus traços singulares e
orgulhosa de ter acolhido o nascimento d’O Cantor de Gospel, anseia a chegada
do seu mais famoso conterrâneo com preparações messiânicas. Eis que chega, o
Cantor chega e quando o Cantor chega, começa a chover, coisa que já não
acontecia há alguns meses e deixa os populares de Enigma e vilas circundantes
rubras de orgulho porque o seu Cantor de Gospel, além de ter uma voz celestial
que comunica com o divino é também veículo para milagres. O Cantor de Gospel,
obra de estreia do escritor norte-americano Harry Crews é um retrato vivido da
americana do interior, do seu povo marcado pela superstição e atarantado pela
miséria em que nasce, cresce e morre.
Quando Harry Crews descreve o calor que se sente em
Enigma, sentimos imediatamente o formigueiro incomodo do suor, porque o
escritor consegue na sua pena transmitir vibrantemente, todos os suspiros,
todos os arfares das personagens. A história supostamente simples mas nem por
isso, gira à volta de um homicídio e da chegada do filho pródigo à cidade de
Enigma, neste caso do cantor pródigo e da tragédia que como um sátiro aguarda
atrás da cortina para um desenlace cheio de dor e desespero.
Não conhecia este autor e foi uma “compra cega” numa
livraria em Cascais (a capa atraiu-me), mas por certo, dos melhores romances
que li este ano. Editado originalmente em
1968 e agora reeditado em versão traduzida pela Maldoror em 2019, é um livro
imperdível e que não pecava mais por ser adaptado para cinema, talvez por P.T
Anderson. Fãs de Tennesse Williams talvez delirem com este romance, assim como
toda e qualquer outra pessoa interessada no melhor da literatura
norte-americana.

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